sexta-feira, 16 de outubro de 2009

1ª SESSÃO - Verdade ou Mentira

título original : Shattered glass
Realização: Billy Ray
Ano: 2003
Duração: 96 min.


Exibido a 12 de Novembro de 2007

Debate conduzido por Paulo Martins
Tema do debate : A CONSTRUÇÃO DO REAL



O mundo da comunicação social tem como base a representação do real. Neste caso concreto, uma representação que se pretende verdadeira. Mas será que é mesmo assim?

Este filme baseia-se em factos reais, narrando a história do jornalista americano Stephen Glass, um jovem que tinha 24 anos quando começou a trabalhar na revista “The New Republic”. Aí permaneceu três anos, entre 1995 e 1998. Entrou como simples estagiário e rapidamente se transformou num brilhante cronista, com artigos de investigação sobre temas actuais. Mas a veracidade de uma das suas reportagens foi posta em causa. Iniciou-se um processo, envolvendo os superiores hierárquicos, colegas e amigos. No final, descobriu-se que 27 dos 41 artigos que publicara eram falsos, quer na sua totalidade, quer parcialmente. Alguns eram completamente inventados. O choque foi grande…

Que tipo de motivação leva uma pessoa a mentir, a inventar fontes e a falsear histórias? A fama? A tentativa de se destacar num mercado competitivo? Mostrar a todos que era melhor que os colegas? Construir a auto-estima?

Em relação à revista e aos seus editores as consequências também foram graves. Perdeu a confiança dos leitores e tornou claro ao público que muitos dos artigos são escritos por estagiários. A credibilidade foi afectada, sendo um duro golpe para uma revista lida no avião presidencial “Air Force One”.

O mundo das Artes e da criatividade é competitivo. As intrigas e invejas abundam. Curiosamente, quem desvendou este caso foi uma outra revista, onde os jornalistas e estagiários, apesar da competição, resolveram trabalhar em equipa.

No final, há uma interrogação que se mantém. Qual a verdadeira motivação individual do artista, neste caso um escritor de crónicas jornalísticas: provocar? Representar a realidade? Transmitir a sua visão dos factos, independentemente da sua veracidade? Tentar reproduzir a beleza ou a fealdade que nos rodeia? Utilizar a arte como denúncia e, nesse caso, ao serviço de quem? Dos nossos interesses, ou da própria realidade? E, por fim, uma pergunta essencial a qualquer autor: que representação fazemos nós próprios de nós mesmos? E em que medida essa representação pessoal afecta a percepção da realidade que nos rodeia e a que representaremos posteriormente?

Lanço estas (e outras perguntas que surgirão por arrastamento) para o debate de hoje. Mas faço uma advertência: vale a pena ver o filme para podermos equacionar melhor as nossas respostas. Um artigo publicado em 2005 na revista Journal of Communication Inquiry, por Matthew C. Ehrlich, intitulado Shattered Glass, Movies, and the Free Press Myth, pode, também, ajudar-nos a encontrar boas pistas de análise.