sexta-feira, 16 de outubro de 2009

4ª SESSÃO - Fahrenheit 451

Realização: François Truffaut
Ano: 1966
Duração: 112 min.

Exibido a 22 de Novembro de 2007


Debate conduzido por Rodrigo Silva
Tema do debate : O CONTROLO DA REPRESENTAÇÃO



Cinco questões sobre “Fahrenheit 451”:

1. Questão do totalitarismo e das sociedades de controlo, da biopolítica. A liberdade é asfixiada pelos sistemas simbólicos, sistemas de transmissão, de mediação, e pelo uso que os aparelhos de Estado fazem deles. A fabricação do consentimento através da propaganda é disseminada por todos os gestos do quotidiano; tudo foi invadido porque tudo foi integralmente apropriado pela mecânica implacável da vigilância generalizada e pelo policiamento securitário, que converteu o espaço público, o espaço da acção livre, num espaço codificado pela máquina administrativa e burocrática.

2. Questão da memória colectiva e da consciência histórica: a ordem monolítica e massificada das instituições colectivas controlam os sistemas de representação, fazendo valer apenas uma versão da vida colectiva e uma visão do mundo, sem pluralidade, sem lugar para a singularidade do indivíduo. Deixa de haver histórias individuais, mas apenas a dissolução do indivíduo enquanto elemento sacrificial de um colectivo – destruição da memória e das recordações de cada um. Desaparecem os gestos e práticas que constituem a individuação como singularidade idiomática.


3. Questão do tempo e do espaço: um presente eternizado, um limbo suspenso, sem passado não há projecção no futuro. Uniformização de todos os lugares, que estão mapeados, cartografados e coreografados de acordo com a mise en scène idealizada do poder - asséptica, higienista, funcionalizada, normalizada. Amnésia organizada e perda da memória numa sociedade que esqueceu a negatividade e a tragédia da história. Absolutização e imersão num presente ubíquo que é o da realidade construída e mantida pelos dispositivos do poder.

4. Questão das formas de entertainment e distracção organizada como forma de anestesia apática da consciência crítica: há uma estranha familiaridade com cenários e formas de vida de hoje e que tem a ver com as distopias forçadas pelo século XX. O futurismo da ficção científica antecipa muitas das características embrionárias da civilização tecnológica (o filme é de 1966).

5. Questão da possibilidade da resistência, da subversão. Reinvindicação como dissidência criadora: Montag como o homem que recupera o espírito crítico (pensar por si próprio, a partir da memória dos que o fizeram escrevendo livros) e a autonomia do pensamento através da leitura (a solidão e o distanciamento que abrem o espaço da insubmissão e da insurreição poética. O protagonista acabará por se tornar um dos “homens-livro”). Montag rejeita e deixa de aceitar o conformismo e o consentimento, porque a memória dos livros é o recurso para a verdadeira liberdade que é a liberdade interior - numa sociedade onde já não há liberdade exterior porque a exterioridade, a vida pública, está inteiramente refém das palavras de ordem, das enunciações e visibilidades que são programadas e que confiscaram o espaço do possível. O pensamento, a leitura: práticas da insubmissão.